Existe um processo corriqueiro em ambientes de trabalho demandantes que é o reconhecimento às avessas. Funciona assim:
Imagine comigo a Juliana: secretária administrativa de uma loja online. Há dois anos Juliana tem a mesma rotina: checa novos pedidos, atualiza a tabela de vendas, responde emails, emite notas fiscais…
Muitos desses processos são invisíveis na rotina da loja (funcionando bem, ninguém nota que aconteceram). Logo, Juliana não recebe muito reconhecimento diário. Afinal, ela receberia o quê? “Uau, que email bem escrito!”, “Quanta agilidade ao gerar uma nota fiscal!”? Hahaha, sabemos bem que não é bem assim que o mundo funciona.
Em um dia ruim, Juliana emite uma nota fiscal errada: um zero a mais mudou tudo e bem com um cliente exigente! O erro chega até a dona da loja, que chama Juliana para conversar e aponta o erro:
“Que desatenção! Seu erro atrapalhou toda a contabilidade e gerou uma imagem horrível para o cliente! Isso não pode acontecer!”
“Desparabéns” para a Juliana, que acaba de ser reconhecida às avessas! Embora ela tenha tido 440 experiências de acerto, foi notada por sua chefe na única vez em que errou.
O reconhecimento às avessas pode acontecer em vários ambientes de trabalho:
- Com o funcionário da escola que não limpa uma vez a sala de aula: acostumada a entrar na sala limpa, na maior das boas intenções, a professora comunica à direção, que o chama para pontuar o erro. Seus 12 anos de correria passando o pano entre uma turma e outra não foram vistos, mas esse único dia, sim.
- Com o treinador de academia que, em um dia de dor de cabeça, não se atenta que um aluno precisa de ajuda. O aluno reclama para a administração do espaço que, acostumada a não receber elogios gratuitos, anota o ocorrido num caderninho e chama o profissional para uma conversa de feedback.
Tenho certeza que aí de onde me lê, você também lembrou de histórias parecidas. Para não nos tornarmos líderes e colegas injustos, é preciso que saibamos dos trabalhos invisíveis que são apenas notados em suas falhas e que podem gerar situações de reconhecimento às avessas.
Se você é pouco romântico como eu, deve estar pensando:
“Era só o que me faltava! Agora além de fazer o meu trabalho, coisa que já não está fácil, também vou precisar passar o dia distribuindo elogios para ninguém se sentir mal?”
Não é bem isso. Nos meus estudos sobre saúde mental, tenho entendido que o reconhecimento é também a esperança do reconhecimento. Ninguém gosta de elogios vazios, mas gostamos muito de ser vistos. Podemos sempre olhar para a pessoa ao nosso lado e contar que estamos vendo seus esforços — mesmo quando eles não atingem a meta esperada:
“Tá difícil, né, Juliana? Eu vi o que aconteceu e como você ficou abalada. E eu sei da qualidade do seu trabalho: faz 2 anos que você entrega tudo com agilidade e responde a todos com paciência. Erros acontecem… Se eu puder te ajudar para evitar essa situação na próxima vez, conte comigo!”
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