No começo deste ano, tive a alegria de participar de uma conversa com dezesseis mulheres bastante inspiradoras. Na roda, estavam Flavia Kolchraiber, Val Rocha e quatorze “Mães Mobilizadoras” — um grupo de educadoras sociais que se dedica, desde 2017, ao acolhimento e cuidado de mães e gestantes em Parelheiros, São Paulo.

O objetivo principal do projeto é lindo: garantir uma primeira infância de excelência para as crianças da região. Uma mãe bem amparada não só pode educar melhor, como também faz escolhas mais sábias em relação a seus parceiros, consegue trabalhos mais dignos e, especialmente, pode cultivar uma relação mais saudável consigo e com os outros. 

Essa magia acontece de verdade lá no Território! Tirei a sorte grande de poder ver (e ouvir) de perto uma transformação pulsante que, claro, não vem sem dores, mas traz um benefício danado.

Vou deixar aqui abaixo alguns relatos que encheram meu coração de alegria:

“Vínculo, esse é o ponto doce desse projeto.”
—Rafa

“A história da Maria mostra que uma inspiração pode estar dentro da comunidade, pode vir de uma mulher como a gente, que nasceu no mesmo lugar. Mostra que nós também podemos.”
—Amanda

“Como é importante a interdependência. Quando aprendi essa palavra, pensei: é isso que acontece aqui, uma mulher vai puxando a outra.”
—Silvia

“Ser Mãe Mobilizadora tem a ver com nossos valores, com o modo como a gente vive. Não tem lugar, não tem hora, é o jeito que a gente existe no mundo!”
—Maria

“Eu vi que a única coisa que me faltava era ‘o falar’.” 
—Silvia

Durante o encontro, essas mulheres liam os próprios relatos, em que contavam sobre alguma transformação que viveram em um momento recente. Meus olhos se encheram de água muitas vezes e, quando ouvi Silvia, as lágrimas saíram abundantes…

Ela contou sobre como o silêncio a acompanhou desde nova — e que aquele grupo ofereceu para ela a oportunidade de acessar algo que não sabia que tinha: voz.  

Silvia falou um bocado durante alguns minutos e, ao final, disse: “Falei muito, né? Não vou pedir desculpas, agora aprendi a falar!” Ela deu risada! Nós, ouvintes, rimos junto — e choramos também!

Meu choro era de raiva e tristeza, por perceber o quanto fomos (e ainda somos) silenciadas, diminuídas, abafadas. Mas eram lágrimas também de alegria: porque Silvia agora tem voz e, como disse Amanda sobre Maria: isso mostra que nós também podemos ter!